17 julho, 2006

Da Alemanha para o mundo

No rescaldo do Mundial de 2006, que para mim ficará marcado pelo decrescer de entusiasmo, proponho uma análise dos participantes.

Os que não passaram a 1ª fase:
Costa Rica - 3 derrotas e muito pouco futebol. Uma das selecções que se dispensava do "cartaz".
Polónia - A derrota com o surpreendente Equador ditou o destino de uma das equipas mais fortes fisicamente deste mundial. Os polacos estavam bem organizados, mas a falta de talento técnico foi notória.
Paraguai - As derrotas pela margem mínima contra a Inglaterra e a Suécia tornaram inglório o esforço desta equipa tipicamente sul-americana.
Trinidade e Tobago - O empate contra a Suécia foi suficiente para fazerem a festa. Pouco mais se viu desta selecção.
Costa do Marfim - Havia alguma expectativa em torno do Drogba e companhia, mas o grupo era mortífero e, apesar de jogarem bem, não tiveram hipótese.
Sérvia e Montenegro - Outra selecção injustiçada pelo grupo em que calhou. Bons jogadores, boa táctica... e a maior goleada de uma Argentina perfeita. A divisão territorial recente prejudicou certamente o balneário.
Irão - Ainda estou para perceber como é que foi parar aqui.
Angola - Idem idem aspas aspas. A pior selecção deste Mundial.
EUA - Uma decepção depois da boa campanha em 2002.
República Checa - A prova de que em 2004 a geração de ouro checa perdeu talvez a grande oportunidade de fazer história. Grandes jogadores, um motivador jogo inaugural, mas um Gana espectacular e uma Itália mortífera não deixaram Nedved ir mais longe.
Croácia - Não se pode dizer que tenha jogado mal ou que tenha tido péssimos resultados, mas mesmo assim ficou pelo caminho. Não há espaço para todos.
Japão - As derrotas inquestionáveis com a Austrália e com o Brasil, mostraram que esta equipa não merecia passar esta fase.
Coreia do Sul - A equipa afastada nesta fase com mais pontos (4). Depois de uma prestação que teve tanto de surpreendente como de falsificada em 2002, a Coreia voltou a mostrar algum valor.
Togo - 0 pontos e muito pouco futebol.
Tunísia - Incapaz de passar este grupo.
Arábia Saudita - Dispensável.

Os que se ficaram pelos oitavos-de-final:
México - Uma 1ª fase muito fraquinha compensada por um jogo muito bom contra uma Argentina espectacular.
Suécia - Uma equipa abaixo das expectativas, que acabou por passar a 1ª fase com uma derrota tangente e injusta sobre o Paraguai. Derrotada pela selecção anfitriã que nesta altura parecia imbatível.
Holanda - Uma 1ª fase muito "morna", com duas vitórias justas, mas não muito entusiasmantes. Derrotada por um tiro de Maniche.
Equador - Depois de uma 1ª fase surpreendente e entusiasmante, foram derrotados pelo pragmatismo inglês. Uma das selecções "vencedoras" deste Mundial.
Austrália - Outra das grandes supresas. Uma organização exemplar e um conhecimento exaustivo dos adversários valeram-lhe uma presença merecida nos oitavos. Derrotados por um penalty inexistente.
Suiça - Saíram do Mundial sem sofrer um golo no tempo regulamentar. Muito bem organizados, souberam colmatar a falta de grandes estrelas. Eliminados nas grandes penalidades, fica a expectativa de boas prestações nos próximos torneios.
Gana - Ao derrotarem os EUA e a República Checa de forma tão inquestionável e entusiasmante, mereçaram os oitavos. Mesmo com uma derrota pesada frente ao Brasil, saíram da Alemanha com muitos motivos para festejar.
Espanha - Na 1ª fase foram uma das melhores equipas. Muitos jovens, com vontade de provar o seu valor ao Mundo. Um Torres que já não precisa de provar nada. Tiveram azar ao apanhar uma selecção que precisava de provar que continua a ser das melhores. O futebol praticado pelos espanhóis merecia mais.

Os que não passaram dos quartos-de-final:
Argentina - Impossível não torcer por esta equipa. Jogos alucinantes, golos inesquecíveis e um ritmo sul-americano contagiante. Foram eliminados nas grandes penalidades depois de um jogo a controlar os anfitriões. O golo de Maxi Rodriguez vai servir para mostrar às próximas gerações porque é que toda a gente queria que esta Argentina fosse mais longe.
Ucrânia - Depois de uma 1ª fase de altos e baixos e de uns oitavos ultrapassados com alguma sorte, demonstrou frente à Itália que se calhar não devia ter chegado tão longe.
Brasil - A grande desilusão. Quando nem Ronaldinho, nem Kaká, nem Ronaldo (e por aí fora) aparecem, o Brasil mostra que não tem equipa para superar as evidentes quebras individuais. Pagaram o preço de terem dos melhores jogadores do mundo, muito cansados no final de mais uma época ao mais alto nível. Eliminados por uma França que mostrou que estava ali para ganhar.
Inglaterra - Passou a 1ª fase e os oitavos sem precisar de jogar muito. Encontrou mais uma vez uma selecção inspirada nas grandes penalidades.

O quarto classificado:
Portugal - Entusiasmou um país mas não chegou ao pódio. O futebol praticado não chegou para os franceses e os alemães. Mesmo assim, foi ultrapassando os obstáculos.

O terceiro classificado:
Alemanha - Impressionante a forma como um grupo de miúdos foi capaz de chegar tão longe. Na 1ª fase e nos oitavos, foram entusiasmantes e exemplares. Com a Argentina e com a Itália, pareceram acusar a pressão e recuaram mais, diminuindo a qualidade do futebol praticado. O 3º lugar acabou por ser o prémio de consolação, já que contra Portugal demonstraram ser muito melhores.

O segundo classificado:
França - Começou por desiludir, mas acabou por dar uma lição aos que os apelidaram de "velhos". O futebol praticado foi aumentando de qualidade e, depois de eliminarem a Espanha, o Brasil e Portugal, acabaram por cair apesar do domínio no tempo regulamentar. Apesar dos grandes jogadores, mostraram que o mais importante é ter uma grande equipa. Fica na memória o adeus invulgar a Zizou.

O novo campeão do mundo:
Itália - Mais "atrevida" do que o normal, mas sempre segura na defesa e entusiasmante no ataque. Foi passando sem dar muito nas vistas, mas contra a Alemanha mostrou que estava ali para ganhar. Teve em Cannavaro o melhor exemplo do mérito com que alcançaram a Taça. Acabou por vencer onde perdia sempre: nos penalties. Uma vingança de muitos anos.


No geral, retive o facto das equipas, ao longo do torneio, começarem a jogar cada vez mais pelo seguro e, como tal, fomos assistindo a jogos cada vez menos entusiasmantes. Se por um lado se compreende, não me digam que não pagavam mais depressa bilhete para verem a Argentina ou a Espanha da 1ª fase.
E se tivemos grandes equipas e grandes jogadores (Cannavaro, Zidane, Podolski, Torres, Messi...), a verdade é que os grandes culpados por este amargo de boca foram os treinadores. Não houve um que surpreendesse, não houve um que arriscasse, nada. Fora Klismann que construiu uma equipa entusiasmante por ele próprio (mas que acabou por perder quando teve medo do adversário), fora Guus Hiddink que pegou em jogadores longes de serem craques e fez um conjunto sólido (mas que, mesmo assim, não foi capaz de ultrapassar um adversário melhor) e ainda talvez Lippi que conseguiu tirar proveito dos jogadores que tinha sem precisar de os pôr todos atrás da bola (mas que, bem vistas as coisas, também não os fez produzir nenhum espectáculo), a verdade é que nenhum treinador foi responsável pelo entusiasmo dos adeptos. E se isso nos passa um bocado ao lado, porque num Mundial nem temos tempo para pensar no futebol praticado, a frio custa-nos admitir que podiamos e deviamos ter visto melhor.

Em 2010 há mais.

11 julho, 2006

Plantel do Campeão

O FCPorto começou ontem a preparação da temporada de 2006/2007. Sem os dois mundialistas (Lucho e Ricardo Costa), 24 jogadores apresentaram-se a Co Adriaanse: Adriano, Alan, Anderson, Bosingwa, Bruno Alves, Bruno Moraes, Cech, Diogo Valente, Ezequias, Helton, Ibson, João Paulo, Jorginho, Lisandro Lopez, McCarthy, Paulo Assunção, Paulo Ribeiro, Pedro Emanuel, Pepe, Quaresma, Raul Meireles, Sokota, Vieirinha e Vítor Baía.

Quanto aos reforços parece-me evidente que não podem ficar por aqui. João Paulo é na minha opinião a aposta mais segura; Diogo Valente e Ezequias ainda têm muito por provar. Entretanto vem aí um tal de Sektioui, um extremo marroquino que vem do AZ Alkmaar. Não faço a mínima ideia do que joga o rapaz por isso não me pronuncio.

Quanto às saídas, César Peixoto, Postiga, Sonkaya e Hugo Almeida foram dispensados. Este último é o único com futuro assegurado, já que tem guia de marcha para o Werder Bremen. Isto não foi grande surpresa para mim, já que nenhum destes 4 tem lugar neste plantel. A surpresa foi alguém querer mesmo o Hugo Almeida.
Diego, como sabem, foi também despachado para o Werder Bremen. Ainda estou para perceber esta história. Ou muito me engano ou daqui a uns tempos ele está a regressar a Portugal.
Bruno Vale, Areias, Paulo Machado, Ivanildo, Maciel, Pitbull e Hélder Barbosa foram emprestados. Areias, Maciel e Pitbull porque não têm, obviamente, lugar no plantel. Os 4 jovens vão rodar em equipas da 1ª Liga para crescerem.

A incógnita é, pela 3ª(?) época consecutiva, a permanência ou não de McCarthy. Que ele quer sair já toda a gente sabe, que nós queremos que ele saia também. O problema é que, para além de ninguém estar disposto a pagar muito por ele, o Porto ainda não conseguiu contratar um ponta-de-lança que o possa substituir. Fala-se muito de Hesselink mas quando os negócios se arrastam muito já se sabe que correm mal. Já para não dizer que o monstrinho holandês me parece mais um substituto do Hugo Almeida que do McCarthy e isso sim é preocupante.

O balanço final parece-me equilibrado. Fora a saída inexplicável de Diego, o plantel não perdeu grande coisa e também não ganhou grande coisa.
Tendo em conta o campeonato, pode chegar outra vez mas continuo a achar-nos muito pouco preparados para a Champions.

09 julho, 2006

Portugal - Alemanha

Como é que eu um dia vou explicar aos meus filhos...

... porque é que Portugal tinha direito a estar desmotivado neste jogo quando um 3º ou 4º lugar são sempre óptimos resultados?

(porque é que eu acabei de dizer que o 3º ou o 4º lugar são óptimos lugares para Portugal se até perdermos com a França nos auto-denominámos como "um dos principais favoritos"?)

... porque é que a Alemanha não veio com este discurso e encarou antes este jogo como uma forma de satisfazer os adeptos e jogou bem, para ganhar e dar espectáculo se, a jogar em casa, tinham mais obrigação do que nós de ir à final?

... que, apesar de eles ouvirem os comentadores desta altura a dizerem que aquela bola era capaz de fazer "duas ou três curvas" num só remate, o 1º golo da Alemanha é um grande frango?

... que, apesar de eles verem nos jornais antigos que Portugal teve muito azar nos jogos contra a França e contra a Alemanha, a mãe passou a acreditar numa tal de Caravaggio depois deste Mundial?

... porque é que o Scolari disse antes e depois do jogo que compreendia a frustração dos seus atletas quando supostamente não havia frustração nenhuma?

... porque é que nunca ninguém assumiu que começava a não ter piada nenhuma chegar longe e não ganhar?

... que o Pauleta que eles ouvem dizer que é o maior marcador de sempre da selecção nacional em fases finais só marcou um hattrick a uma Polónia que coitadinha e um golo à fantástica selecção de Angola?

... que o Ricardo que eles vêem na RTP memória a dar um Europeu à Grécia, a dar um campeonato ao benfica e a ser humilhado no Dragão é o mesmo que as pessoas ainda hoje relembram como "o herói do Mundial de 2006"?

... que o banco de Portugal no Mundial de 2006 não era assim tão mau como lhes tinham dito pois quando estávamos a perder podíamos sempre pôr o Postiga(!) ou o Nuno Gomes(!)?

... porque é que esta selecção foi recebida em apoteose por cerca de 10 mil pessoas(!) no Jamor?

... que nesta altura bastava fazer-se uns anúncios a relógios, a bancos ou o que quer que fosse em vez de se assistir a jogos, procurar e avaliar jogadores, procurar tácticas e soluções eficazes e fazer substituições adequadas para que um seleccionador fosse idolatrado?

... que o Figo que eles tinham visto na RTP memória a deixar a selecção depois do Euro era o mesmo que voltou uns meses depois como um herói nacional porque por acaso precisava de um novo contrato?

... que o Cristiano Ronaldo que eles ainda viam aparecer nas revistas cor-de-rosa podia ter sido o melhor do mundo se em 2006 não tivesse dado uma volta de 180º graus na sua personalidade?

... que o Deco que eles sabiam ter sido um dos três melhores jogadores portugueses neste Mundial afinal era brasileiro e antes de entrar neste grupo tinha sido criticado pelo tal Figo e Comp. LDA?

... que tirar o único avançado e pôr um médio quando se está a perder não era nesta altura considerada uma má opção?

... que nesta altura havia pessoas que acreditavam mesmo que o Scolari ia ficar em Portugal por carinho e não porque em nenhum outro lado do mundo ele podia ganhar tanto e fazer tão pouco sem ser logo corrido?

... que "honrar o meu país" era uma forma dos jogadores dizerem ganhar prémios de jogo sem que ninguém ficasse chocado?

... que a mãe não era a única pessoa que gostava de questionar-se sobre estas coisas, mas que era considerada maluca por isso mesmo?

... que depois disto tudo a mãe só queria era que começasse a temporada de 2006/2007 para que a sua sanidade futebolística recuperasse do choque?

06 julho, 2006

Portugal - França

Pois é, Portugal não vai ser campeão do mundo. A nossa melhor selecção de sempre não passou o teste contra uma França que, dizem os "especialistas de futebol em tempo de selecção", pouco ou nada jogou neste Mundial.
Na ressaca de mais uma eliminação perante os francius, diz-se que fomos roubados e que Portugal merecia pelo menos a final.

Ora, quanto ao jogo e à arbitragem a minha opinião é simples: o árbitro não influenciou o resultado. Ricardo Carvalho faz falta sobre Henry e nenhuma das outras mil tentativas de sacar um penalty de compensação (mesmo à Tuga, pois claro) me parece justificar estas queixas todas. De resto, a França controlou e a verdade é que quando Portugal teve mesmo que assumir o jogo e atacar (pela 1ª vez neste Mundial, saliente-se) não foi capaz de o fazer.
Quanto ao choro todo porque supostamente mereciamos a final acho que, em primeiro lugar, as pessoas deviam estar era muito contentes porque chegar até às meias é, afinal de contas, uma coisa que conseguimos 2 vezes na vida.
Em relação ao mérito, é muito discutível porque eu já ouvi os tais "especialistas de futebol em tempo de selecção" (que são na sua maioria mulheres e metem-me um nojo do pior) a dizerem: "não sei como é que a Itália está na final. Não jogam nada comparados connosco". Por favor, alguém lhes explique o que quer dizer catenaccio. Pronto, já nem peço tanto: emprestem-lhes só uns vídeos da Itália e vejam os jogos com essas pessoas. Expliquem-lhes como não sofrer um golo por sorte e marcar na mesma jogada faz dos italianos temidos, respeitados e mortíferos como ninguém. Expliquem-lhes que isso é futebol. Para quem diz que nós temos um grande ataque e eles só sabem defender, mostrem-lhes a diferença entre um Toni e um Pauleta. Isto é mérito.
Mérito é o que os "velhos" franceses (eu comecei o Mundial a dizer que com estes velhos nem era preciso gente nova...) mostraram ao mundo depois de serem chacinados pela imprensa. Mérito é pegar em meia dúzia de putos "desconhecidos" e fazer uma selecção como a Alemanha de Klinsmann. E mérito é também um país como Portugal lutar contra estes países desenvolvidos dos quais estamos a anos-luz de distância. E não estou só a falar a nível social ou económico. Estou mesmo a falar em termos de futebol, porque em termos de selecção nem podemos comparar títulos porque simplesmente nós não os temos. E, apesar deste mérito e apesar desta selecção ter tido o apoio que nunca nenhuma outra teve, a verdade é que continuamos sem o mais importante: taças.

Mais uma vez, o mal foi sonharem muito alto. É verdade que para chegarem a Berlim só faltou um bocadinho assim mas um tiraço do Maniche ou umas defesas do Ricardo nos penalties não colam todos os dias. Esse bocadinho assim devia ter sido um bocadão a mais de futebol bem jogado. Pronto, admito que eu também sou um bocado exigente.
Se fosse a minha equipa o jogo contra o México preocupava-me imenso, o jogo contra o Irão deixava-me furiosa e o jogo contra Angola dava-me motivos para os ameaçar de morte. Se fosse a minha equipa o jogo contra a Holanda enchia-me de vergonha e o jogo contra a Inglaterra fazia-me acreditar numa santa qualquer. Se fosse a minha equipa depois do jogo contra a França eu ia gritar-lhes ao aeroporto "porque é que nem a perder fazem pela vida?". Se fosse a minha equipa e eu tivesse as mesmas expectativas que os maluquinhos da selecção (ando a tentar arranjar-lhes uma designação mais formal, mas esta parece-me a mais próxima da realidade) exigia um bocado mais: talvez um ponta-de-lança que escusava de ser o melhor marcador de sempre do país, bastava que conseguisse mesmo marcar em jogos contra equipas a sério; talvez dois extremos que escusavam de ser dos melhores do mundo, bastava que fizessem mais do que pensar em contratos com o Inter de Milão e o Real Madrid; talvez um guarda-redes que escusava de defender muitos penalties (com ou sem luvas), bastava que me deixasse segura e que não me tirasse um Europeu na minha própria casa; talvez um treinador que fosse capaz de pensar além de "estou a perder. Vou tirar o Miguel e pôr o Paulo Ferreira. Vou tirar o Pauleta e pôr o Simão. Vou tirar o Costinha e pôr o Postiga", que procurasse opções para além dos convocados que vinham no jornal. Porra, sei lá, bastava um treinador que efectivamente treinasse!!

Enfim, acabou. Agora resta-nos ver os mil anúncios de "Obrigado selecção", "Obrigado Scolari", "Obrigado herói do Montijo" e todas essas parolices ridículas enquanto a Itália e a França ficam com um troféu a sério e nós vamos condecorando uma equipa sem títulos. Mas com "mérito".

04 julho, 2006

Portugal - Inglaterra

Sem Deco e Costinha, Scolari põe Petit e Tiago. Se a troca até é aparentemente óbvia, pareceu-me que faltou muito trabalho técnico porque Portugal jogou toda a partida sem um organizador de jogo. Tiago não sabia se tinha que "fazer de Deco" ou "fazer de Maniche" enquanto o Maniche "fazia de Deco". Nem sequer foi inteligente ao ponto de pôr o Figo no meio e pôr o Simão de início ou dar a tarefa de organizar ao próprio Simão e deixar estar o Figo quietinho no seu canto, como ele gosta.
Sendo assim, faltou o elo fundamental para ligar a equipa e, como tal, foi ver Pauleta sem bola o jogo todo (o que não é, bem vistas as coisas, uma grande novidade).

Mesmo assim, Portugal jogou bem e criou oportunidades. Do outro lado, a Inglaterra parecia mais bem organizada mas o facto é que o perigo ia sendo equilibrado.
Os 90 minutos, embora sem golos, tiveram boas jogadas e houve vários jogadores que se destacaram. Do lado português, Ricardo Carvalho é aquele adivinho que toda a gente sabe. Do lado inglês, Hargreaves foi perfeito.
Rooney foi bem expulso e só mostrou que para se ser um dos melhores não basta dar uns toques. Também é nisto que se distinguem os muito bons dos brilhantes.
No prolongamento, a Inglaterra continuou a dominar (se é que se pode chamar àquilo domínio) mas Portugal também teve boas hipóteses.
Nos penalties, Ricardo defendeu muito bem o de Lampard e depois foi vê-los a enterrarem-se, embora o Hugo Viana e o Petit ainda tenham contribuído para meia dúzia de ataques cardíacos.

Portugal está nas meias-finais. Ao contrário de muita gente que me rodeia, eu continuo exactamente com as mesmas opiniões e, como tal, sou coerente ao ponto de continuar neutra. Felizmente ou infelizmente, o problema é que a selecção nunca mexeu nem mexe comigo, por muito longe que eles cheguem ou por muito que os outros países nos piquem. Se este jogo envolvesse o Porto eu tinha morrido, mas com a selecção mal me enervei. Já tenho sido criticada por pessoas que começaram este Mundial anti-Portugal e agora vão para o Castelo do Queijo de cachecol e bandeirinha vibrar. E isso sim, irrita-me. Tal como me irrita explicar tudo isto aos milhões de pessoas que não percebem um crl de futebol, que passam o ano sem falar de bola e que agora são todos uns malucos pela selecção. Pior, já se acham no direito de me dizer "por muito que o critiques, tens que admitir que o Ricardo foi um herói" (como se eu alguma vez criticasse o meu Ricardinho e como se dois jogos contra a Inglaterra na vida dele justificassem toda uma carreira) ou então "tu não gostas dele porque ele se chateou com o Porto, mas tens que admitir que o Scolari é um grande treinador" (como se eu me chateasse com o facto de ele não gostar do Porto e como se os resultados - que até agora, relembro, são zero em termos de títulos - justificassem o não ver jogos, o não procurar jogadores, as substituições brilhantes, etc etc) ou ainda quando me vêm com expressões futebolísticas que aprenderam há meia dúzia de dias.

Detesto o típico adepto da selecção mas detesto ainda mais os adeptos de ocasião. Detesto esta gente que não percebe nada de futebol e que vem dizer-me que "Portugal é a selecção que joga melhor neste Mundial", que não sabe o que é ir à bola mas que está sempre batidinha no Castelo do Queijo.
Detesto esta onda nacional de idolatrar cegamente aqueles gajos que correm por prémios de jogo e que voltam à selecção para conseguirem um contrato. Detesto que neste país não se possa dizer que O FIGO NÃO ESTÁ A JOGAR UM CRL e O CRISTIANO RONALDO ESTÁ A PENSAR É NA MERCHE E NO REAL MADRID. Detesto que não se questionem as opções. Detesto os programas de televisão, todos em directo da Alemanha, com as Merches e os Malatos cheios de cachecóis e a dizerem que "o Ricardo deu uma lição a quem duvidava dele" com tanta convicção como se estivessem a dizer que o céu é azul. Detesto que digam "nunca sofri tanto como neste jogo" quando sabem lá o que é sofrer como eu num estrela da amadora-Porto.

Mas numa coisa isto tem sido bom: a imprensa portuguesa aprendeu finalmente a deixar de ser politicamente correcta. Foi preciso picar esta selecção para finalmente responderem aos arrogantes dos ingleses e dos franceses. Ainda hoje vi a capa do Jogo chamar idiota a um jogador francês e pensei: "hum... se quando o Fergunson chamou teatreiro ao Baía isto fosse assim então o nosso jornalismo estava finalmente no bom caminho".

Segue-se a França. Se a Caravaggio não nos deixar agora, acredito que Portugal tem condições para ganhar.

P.S. Relembro aos mais distraídos que isto é um blog pessoal. Aqui escrevo o que penso e assumo a responsabilidade por isso. Dou a cara sem qualquer problema e sou capaz de admitir que erro. Se alguém, por algum motivo, acha que eu não percebo nada de futebol e não mando uma para a caixa, a blogosfera é muito grande, escusam de andar sempre por aqui.