Portugal

Portugal é um país estranho. As pessoas vivem na miséria e no desemprego e votam em pessoas de direita, os políticos não fazem nada e são reeleitos, o telejornal da TVI é o mais visto, os Big Brothers e Quintas das Celebridades (que ninguém conhece) substituem o teatro, a ópera e a dança e os DZRT são um fenómeno musical.

Além disso, todos sabemos que o futebol é cada vez mais um mundo repleto de corrupção, de publicidade e de dinheiro (muito dinheiro). No entanto, somos todos malucos pela bola.
E mesmo aqueles que não acham piada nenhuma ao futebol (os pseudo intelectuais que apreciam um bom livro ao som de Mozart, mas que a seguir ligam a televisão para ver a 1ª Companhia) e acham que nós, adeptos, não passamos da classe baixa da sociedade (alto, aqui a excepção é o nosso querido clube de elite: o sportem) que não tem mais nada que fazer do que trabalhar, trabalhar, trabalhar e ver futebol... transcendem-se quando se diz uma palavra: Selecção.
Ui, aí é a loucura. Somos todos portugueses! Toca a puxar pelo nosso Figo (que fala espanhol), pelo nosso Deco (que tem um pequeno problema de sotaque), pelo nosso Ricardinho (aí acho bem, por acaso) e por todos aqueles que vestem aquela camisola em nome do dinheiro, ups, da Nação. Viva Portugal!
Aí os adeptos já não são arruaceiros, são portugueses. Aí já não é feio uma mulher ir à bola, são portuguesas. Este país é mesmo estranho.

A febre à volta da Selecção mete-me nojo. Primeiro porque acho ridículo aquelas pessoas considerarem-se adeptos. Porra, adepto que é adepto vê os jogos da Selecção a torcer para que o melhor jogador do clube rival se lesione. Depois porque se acham mesmo fiéis, porque foram para o Parque das Nações ver TODOS os jogos da Selecção no Europeu. Porra, adepto que é adepto acha que um estádio com cadeiras já é comodismo a mais. E, principalmente, odeio aquela conversa dos jogadores do "tenho muito orgulho em jogar por Portugal". E os portugueses comem mesmo isto! Porra, se eles tivessem orgulho não perdiam tempo a discutir prémios de jogo, não voltavam à Selecção para garantir o contracto com o Inter, não faziam anúncios publicitários à pala da tal camisola que nos enche de orgulho.

E acima de tudo isto (que eu continuo a achar muito estranho) está a estranha forma dos portugueses tratarem os seus seleccionadores. Há os bons e os maus. O Oliveira, por exemplo, foi mau porque não conseguiu que aqueles gajos armados em "geração de ouro" (sim, essa que não ganhou nada) jogassem à bola quando eles queriam era copos. Tá mal.
Já o Scolari é o bom. O salvador da Pátria que nos levou a uma final do Euro(Relembro aos mais desatentos que esse Euro se disputou cá, que na final o estádio torcia quase todo por Portugal, que o adversário era... a Grécia...). O homem que incentiva a bela da bandeira na varanda, que nos faz gritar bem alto que somos portugueses.
Bem, também é o homem que ganha mais do que 30 mil contos por mês, o único seleccionador do mundo que não vai aos estádios ver jogadores, o adivinho que mesmo sem conhecer os jogadores é capaz de os afastar ou de os chamar pela primeira vez. Mas isso não interessa pois não? Quem é que quer saber disto se ele até é bom treinador?
Quer dizer, espero que ninguém se lembre que no jogo inaugural do Euro ele jogou com a equipa "dele" e foi humilhado. E que no segundo lá pôs a equipa que o País exigia (um bocadinho "carregada" de jogadores campeões europeus) e foi ganhando. E que na final jogou contra uma equipa que já todos sabíamos como jogava mas que mesmo assim caiu nos mesmos erros. Opa, isto não interessa.
O que interessa é que o Ricardo é titular, é que o brasileiro nos continua a comer a todos e o Madail continua a comandar aquela máfia toda.
E viva Portugal!