benfica 1 - 1 FCPORTO

Antes:
Tal como pelo menos 6 milhões de portugueses, eu estava convencida que o Porto ia perder na luz. Não tanto como pessoas que me ligaram antes do jogo a dizer que iamos levar 2 ou 3, ou como outros tantos que já pregavam a liderança. Mas estava.
E não pelos mesmos motivos. Eu não estava assim por achar que o benfica é melhor. Chama-se pura e simplesmente um pressentimento.

O cortejo correu muito bem. Do local onde estacionámos até à luz, nada a registar. Continuo a achar que com o Euro2004 se aprendeu muito. Fora as bocas normais de provocação da própria polícia, tudo na maior.
Os problemas começaram à entrada. Já me devem ter ouvido dizer 500 vezes que na luz nunca há uma organização à altura destes jogos e mais uma vez isso ficou provado. Quando viram 3 mil e tal pessoas a chegar até pareciam surpreendidos, como se não tivessem sido avisados. Entrámos a correr, mal fomos revistados.
Chegados à famosa "ponte", onde noutro ano até tivemos que esperar que os lampiões passassem de um lado para o outro, tivemos nem sei quanto tempo apertados como animais. É indescritível a forma como me consegui safar de ficar ali.
Ainda lá apertados, adivinhem a estratégia da polícia: passar pelo meio de nós de cassetete em punho. Resolveram imenso.
Com Diabos de um lado e No Name do outro, qual não foi o meu espanto quando um polícia ameaçou um portista ao meu lado de não o deixar ir ver o jogo porque estava a insultar os lampiões. É que realmente não se faz.
Mas calma, há mais histórias giras. Da porta 23 até às nossas entradas, passámos por 3 ou 4 entradas onde 2 ou 3 polícias garantiam que os lampiões não nos fizessem nada e nós não fizéssemos nada aos lampiões. Sinceramente, acho que aquilo só não passou dos insultos porque tanto de um lado como de outro já só queríamos era ver o jogo.
Bancada, finalmente. As equipas aquecem. Jorginho titular, Anderson no banco. Sempre com gente a entrar, rapidamente agradecemos aos responsáveis do benfica que nos mandaram para o terceiro anel. É que ali é mesmo fácil abafá-los.

Durante:
Quando começa o jogo, ainda há gente a entrar e já estamos todos a monte cá em baixo. Arrasámos aquilo tudo e os jogadores correspondem. Se eu fosse do benfica (cruzes, credo, canhoto) insultava veementemente quem nos pôs ali. Como não sou, sorria.
Quaresma, Pepe, golo. A explosão natural. E a polícia que entrou logo a seguir ao golo, a mandar as pessoas saírem de onde tinham estado desde o início. Estavam a perder.
Intervalo. Começa a segunda parte com um benfica melhor, mas nunca tive medo. Eu, que a ganhar 3-0 à naval, eles chegarem à nossa grande-área é de pôr as mãos à cabeça. Sabia-me bem estar ali, como em alvalade no ano passado.
Mas eis que chega a polícia. Com a notícia que tinha ido gente parar ao hospital com os petardos que mandaram lá de cima (situação que realmente era muito difícil de prever), tinham de justificar serviço. Tentaram na ala dura dos super, mas foram expulsos e então toca a vir chatear quem não os intimida.
A ideia era formarem um cordão e escolherem cerca de 30 pessoas para serem revistadas à procura dos famosos petardos. Eu fui escolhida. Quando do outro lado os polícias do Porto nos diziam para estarmos quietos porque os petardos não tinham vindo dali, os de lisboa pegaram em mim e zumba que lá vai disto. Não vi os últimos 15 minutos. Mas vi muita coisa terceiro-mundista. Eles fazem o que querem.

Depois:
Saída sem problemas. Mensagens para saber o que tinha acontecido no jogo. “1-1 com golo na própria do lucho. benfica teve uma grande oportunidade do mantorras, Rentería falhou um golo isolado”.
Regresso a casa com algumas dores e com a preocupação de deixar amigos em lisboa.
Não posso dizer que o resultado me tenha sabido bem. Nem posso dizer que tenha sido uma transferta para recordar. Mas não me vou esquecer que deixámos muito boa gente com uma grande tola.

Acordar a seguir a um jogo na luz é sempre acordar com más notícias. Se o benfica ganha é porque não se fala de outra coisa; se o benfica não ganha é porque vai sempre dar ao mesmo: mau comportamento dos adeptos do Porto.
Passei o dia a ouvir “vocês tinham alguma coisa que mandar petardos para os benfiquistas?”.
Começo por dizer que é óbvio que nunca me passaria pela cabeça atirar fosse o que fosse lá para baixo com o intuito de magoar alguém. Mas também me parece óbvio que há pessoas capazes de o fazer. E nisto, meus amigos, deixem-se de moralismos porque a estupidez não tem clube.
O que me parece é que tudo começa na inteligentíssima decisão dos responsáveis do slb em mandar-nos lá para cima. Sinceramente, não me parece inocente. Porque ninguém seria tão ingénuo ao ponto de acreditar que ia correr tudo bem. Acho é que foi uma boa maneira de voltarem as atenções para os arruaceiros de sempre, enquanto passavam por heróis ao deixarem as crianças irem para a tribuna VIP.
E depois a polícia teve de justificar a sua presença ali. Curioso que, com não sei quantas câmeras sempre em cima de nós, no momento em que me levaram lá para dentro nem uma maquinazinha fotográfica estava presente. Quem votou no Salazar para Grande Português deve adorar isto.
Comunicação social de hoje é sempre a arrear nos adeptos do Porto. Se a ignorância matasse, eu tinha emprego garantido.

Já todos sabemos como são estas coisas e eu sei que corremos sempre estes riscos. Pessoalmente, o que faço é evitá-los. Porque não vou lá para magoar alguém com um petardo, ou para bater em tudo o que está à minha frente só porque estou vestido de Power Ranger. Vou lá pela paixão que sinto pelo meu clube. E isso nem um cassetete me tira.