Vítor Baía 99

Acabei de ler o livro daquele que é, para mim, o melhor guarda-redes do mundo. E não pensem que digo isto para acabar com a já pouca credibilidade deste blog como um blog isento e imparcial; é mesmo o que eu penso. Podem argumentar que este ou aquele até parecem ser melhores. Mas nenhum tem a carreira deste, nenhum passou pelas mesmas dificuldades - superando-as de uma maneira irrepreensível - e, sobretudo, nenhum é do FCPorto. E, como tal, para mim não há (nem teria lógica se houvesse) melhor.

Para os adeptos dos outros clubes até aceito que seja difícil de compreenderem isto. É normal, vocês não têm um Vítor Baía com as vossas cores. Mas acreditem (e aqui penso que falo por todos os portistas com o mínimo de consciência e amor ao clube) que o Baía é o expoente máximo do que um adepto pode exigir de um jogador do seu clube.

Um lutador incansável e raçudo, que mesmo sem se mexer sabemos que está a "suar a camisola"; um homem humilde, que ainda é capaz de achar que tem provas a dar e que não se esquece de quem gosta verdadeiramente dele; um vencedor, porque ganhou tudo o que há para ganhar; um exemplo de maturidade e sobriedade, que aguenta a mágoa de não ter estado presente no Europeu de 2004 pela estupidez de um palhaço sem ter que ligar para a Sport tv a chorar; um grande capitão, que soube, nos momentos certos, reconhecer que deve muito ao FCPorto (tal como o FCPorto lhe deve muito a ele); muito mais haveria a dizer sobre Vítor Baía, mas é impossível descrever um Homem como este e um JOGADOR de outro mundo.

O livro conta os primeiros passos no futebol, as aventuras com o amigo Domingos Paciência (que saudades do magrinho que fazia a grande dupla com o Kostadinov...), as dificuldades em explicar ao pai que tinha nascido para ser guarda-redes, que amava o FCPorto...
Os primeiros troféus nas camadas jovens, a tromboflebite que colocou em risco a sua própria vida, a ajuda do presidente e do grande Mlynarczyck nos primeiros passos nos seniores... O sabor amargo da derrota no campeonato, a compensação do quase recorde de minutos sem sofrer um golo, o crescer com a mística de jogadores como João Pinto...
Os campeonatos com Carlos Alberto Silva e Sir Bobby Robson, a ida para Barcelona, as parecenças da cidade com o Porto, o ser recebido como uma estrela de cinema, os troféus... As invejas que lhe destruíram a imagem mas não a garra, um Van Gaal arrogante e prepotente a quem eu própria agradeço (sem ele, o Vítor podia nunca ter voltado ao Porto)...
A alegria do regresso ao Porto, as lesões que atiçaram os críticos, os críticos que o atiçaram a ele...
O desentendimento algo inexplicável com Mourinho, a mágoa de não poder vestir a camisola da Selecção...
Sevilha... Gelsenkirchen... Não há palavras...
O susto e a alegria da Intercontinental num ano muito complicado...

Ele esteve em tudo isto. Com uma postura inigualável, com aquela segurança que só nós compreendemos, com um amor enorme pela camisola que enverga.
E a nós, portistas, a sua carreira enche-nos de orgulho. Tal como ele agradece o nosso carinho, nós agradecemos a sua entrega, o seu brilho, a sua lealdade com o azul e branco.

Para mim, que só com dificuldade me lembro dos bravos que jogaram em Viena, o Vítor é, a par com o Jorge Costa, o FCPorto. É o tal espírito, a mística e a tal garra tão nortenha, tão tripeira, tão portista... E é mesmo o melhor guarda-redes do mundo!

Que o 99 esteja na nossa baliza durante muito mais tempo.