30 janeiro, 2007

Futebol ou a aranha do meu destino

A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

Fernando Pessoa


(O que vou fazer de seguida vai matar de ataque cardíaco umas quantas professoras de português que tentaram em vão fazer-me ler poemas como elas e outros tantos intelectuais ao verem Pessoa analogicamente ligado ao futebol)

A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.


Vejo o futebol como Pessoa vê a aranha do seu destino: faz-me não pensar. Não há Razão nenhuma no adepto e é isso que tanto nos atrai.
Na vida pedem-nos equilíbrio e rotina; no futebol não nos pedem mais que emoção.
22 jogadores, duas balizas, uma bola.. ou tudo o que verdadeiramente somos dentro de 4 linhas.

Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.


Cresci com o futebol mas ainda hoje não o consigo definir. Mas, ao contrário do poeta, sempre soube o que sou. E se dentro deste fenómeno as nossas cores vão mudando, o fanatismo deixa-me escrever que no fundo somos todos iguais.
Na vida todos queremos estar bem, ser felizes. Os mais ambiciosos pedem sucesso; os mais sovinas desejam dinheiro. No futebol isso tudo não nos chega.

É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...


(deixo em branco para pensarem somente no que já abdicaram pelo futebol)

Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.


A nossa vida é marcada por datas. Tanto a 20 de Outubro de 1990 nasceu o meu irmão, como a 21 de Maio de 2003 o Porto ganhou a UEFA. Guardo com apreço as fotografias antigas com família e amigos, como colecciono bilhetes desde que atingi a maioridade e os comecei a ter. E ao olhar para uns e outros sinto o mesmo: na vida como no futebol, todos baloiçamos entre os bons e os maus momentos.

A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.


Não querendo cair no cliché da relação entre futebol e poesia, aqui separo o adepto do poeta. Porque este último vive nas incoerências do pensar e não pensar, do amor e do desprezo, da vida e da morte. E nós, adeptos, sabemos bem o que queremos. Simplesmente.. ganhar.

3 comentários:

Bacalhau disse...

Que dizes?? Posso ser o teu manager?? Vou ligar para as editoras, ok?

Sara disse...

Uma interpretação, no mínimo, original e, no máximo, fascinante ;)

Anónimo disse...

Menina Catarina, como professora de português, tenho a dizer-lhe que a sua interpretação, apesar de bastante pessoal, não deixa de estar correcta. Se bem fundamentada, justificada e argumentada, a poesia e a sua respectiva análise estão sempre bem ;)