Se há torneio que, para mim, se consegue equiparar ao futebol, esse torneio é Roland Garros. Ganhei-lhe o gosto com Gustavo Kuerten em 1997 e não mais larguei. No entanto, a minha memória apenas reteve as vitórias seguintes do brasileiro; as outras finais, só mesmo com a ajuda da wikipedia. Talvez as minhas gavetas cerebrais não tenham mais espaço para estas preciosidades extra-futebol.
Só em 2005 é que o meu cérebro voltou a Paris, quando um miúdo espanhol impressionou tudo e todos ao vencer Roland Garros. Falo, claro, de Rafael Nadal, que agora é nada mais, nada menos, do que tetracampeão do torneio.
Mas façamos uma pausa na terra batida porque entretanto entrou uma personagem determinante na história. Roger Federer é o número 1 do ranking há já alguns anos e é-o merecidamente. Ninguém ouse questionar a categoria do tenista suíço. Ele é bem melhor do que os outros todos, aliás, muitos dizem que é o melhor de todos os tempos.
A verdade é que, para mim, ele é realmente do melhor que eu já vi, embora confesse que Pete Sampras está lá muito perto. Federer tem tudo levado ao extremo: classe, desportivismo e talento. Vê-lo vencer tornou-se quase o pão nosso de cada dia de quem gosta de seguir de longe os outros torneios. Só que isto tudo parece não ter efeito nos cortes de Roland Garros.
Não sou da opinião de quem possa pensar que Roger Federer não é suficientemente capaz de vencer em Paris. Acho que afirmar isso chega a ser estúpido quando se olha ao ténis do suíço, praticamente perfeito. Acho, sim, que os deuses do desporto inventaram de propósito um Rafa Nadal para lhe estragar a festa.
Com aquela cara de índio temível, Nadal representa quase tudo o que não se pede no ténis. Agressividade, força e um sem número de erros técnicos. Não é que eu perceba muito desta última parte, mas habituei-me a ouvir os comentadores dizerem que «o que Nadal faz não se deve ensinar às crianças».
Canhoto apenas a jogar ténis, o espanhol troca todas as voltas aos adversários. Bate na bola de uma maneira estranha, dá-lhe efeitos desconhecidos e, o que mais me impressiona, é que chega a TODAS as bolas. E é por estas e por outras que ninguém pode brincar com Nadal em terra batida.
Federer e Nadal não podiam ser mais diferentes. Começam na roupa: o suíço veste sempre aqueles pólos e calções de “betinho” e calça umas meias que nunca se sujam. O espanhol parece um “grunho”, de manga caveada, calções compridos e cheio de suor por todos os lados. E acabam na técnica: o suíço sempre perfeito. O espanhol sempre atabalhoado.
É certo que Roger Federer ficará para a história do ténis como pelo menos um dos melhores de sempre. Mas Rafael Nadal ficará nas minhas gavetas cerebrais como o miúdo com cara de índio que mostrou ao melhor de mundo que o desporto afinal não foi inventado por deuses. É de cá, da terra. Batida, pois claro.
12 junho, 2008
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2 comentários:
já li aqui vários textos que transmitiam palavras azedas a estes ou àqueles, palavras que de quem se diz isento e imparcial, não deveriam ser proferidas na maior parte das vezes. talvez por isso me tenha habituado a vir aqui de vez em quando, talvez essas tuas palavras e essa tua maneira de ver, me tenha prendido aqui, a este blog.
mas hoje, hoje foi diferente. hoje, gosto mesmo muito do teu texto, sinceramente, gostei. de facto a realidade é mesmo essa. talvez tenha concordado porque também desde 2005, esse tal miúdo com cara de índio tenha entrado nas gavetas da memória. digo até que ganhei gosto por vê-lo jogar exactamente pela sua maneira tão própria, tão errada, de jogar que o pôs no segundo lugar do ranking. nunca passando por cima do que é a classe nata de Roger Federer, que sim tem o primeiro lugar inteiramente merecido.
nesta edição outro miúdo conseguiu chamar-me a atenção, resta-me é saber se foi por termos tido um Federer longe daquilo que sempre esperamos dele, mas Monfils chamou-me a atenção principalmente pelo seu lado de lutador incansável. apesar de ter começado por derrotar o português Frederico Gil, o jogo que guardei nas tais chamadas gavetas da memória foi mesmo o com o melhor tenista da actulidade. não consigo chamar-lhe de sempre, para mim Pete Sampras bate-o, mas isso já são opiniões.
acho que estou a exagerar no testamento, não tenho bem a certeza. mas volto a sublinhar, bom texto, Catarina.
Eu acho que não falta técnica ao Nadal, principalmente nesta final de 2008. Errou menos, evoluiu imenso desde 2005, é um bicho musculoso, claro está, e massacra, massacra, massacra. As técnicas devem ser diferentes, ele sobe menos à rede, ganha todas as bolas disputadas do fundo do corte...não sei, é bom. Eu acho. Mas eu não sei nada lol.
Mas concordo com a parte dos deuses. Nadal é o karma do Federer.
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