28 maio, 2008

Sevilha, 21 de Maio de 2003

Já foi há cinco anos...

“0-2, nós acreditamos” – quando os Super Dragões levantaram a frase na saudosa Curva Sul do Estádio das Antas, poucos acreditariam no vaticínio da claque portista. Não que o Panathinaikos fosse um colosso impossível de ultrapassar, mas a história fazia questão de nos atormentar.

Só 11 homens não cederam a fantasmas e tristes prognósticos: Vítor Baía, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Costinha, Deco, Derlei, Alenichev, Maniche, Paulo Ferreira, Mário Silva e Postiga. Um 4-4-2 – “sem truques” – que nos fez acreditar. Quem não se lembra do nosso (e nunca de mais ninguém) Ninja, manco, de rastos, repleto de cãibras, a marcar dois golos na Grécia?

E aí estávamos nós, na meia-final de uma prova europeia, a sonhar mais alto do que há poucos meses poderíamos imaginar. Disse sonhar? Perdoem-me. Nesta altura a verdade é que já estávamos bem acordados.
Se bem que aquele golo de Claudio López abanou o Estádio das Antas até aos mais profundos alicerces. Seria a Lazio capaz de nos ultrapassar no caminho até Sevilha? Maniche, Derlei (por duas vezes, outra vez) e Postiga fizeram questão de mostrar aos italianos que fazê-lo pela direita é proibido e que a faixa esquerda, com um futebol de outro nível, era toda nossa.

Foi talvez o melhor jogo de uma equipa portista que eu já vi. Ninguém me tira da cabeça, até, que o golo sofrido logo nos primeiros minutos já estava planeado, para apimentar o suspense de um thriller perfeito. A Lazio era a vítima, que corria desenfreadamente para fugir da morte e até conseguiu distanciar-se do vilão perseguidor. Mas o Porto soube ser o mau da fita, que anda devagar atrás da presa, que desaparece e dá uns segundos de alívio, até reaparecer do nada e dar o golpe final. Claudio López não foi, afinal, mais do que aquele tiro que convence o espectador que está a assistir a um final feliz. E a Lazio já devia saber que nenhum vilão morre à primeira.

Roma foi apenas um passeio pela Cidade Eterna, com Vítor Baía – pausa para recordar o melhor guarda-redes do mundo - a demonstrar que as portas estavam mesmo escancaradas para a final. E de repente estava eu numa fila soalheira, à espera que um rectângulo mágico me caísse nas mãos. E, como se o tempo não fizesse parte da nossa dimensão, num instante já estávamos numa camioneta a caminho de Sevilha.

“Começou a invasão”, escrevia um jornal sevilhano na véspera. 70 mil escoceses/irlandeses, 30 mil portugueses e um calor desumano. Como se já não fosse suficientemente doloroso chegar a uma final da Taça UEFA. De Sevilha não tenho muito para vos contar. Não era possível observar a cidade com olhos de turista quando umas horas depois iria estar tanto em jogo. (Um pequeno parêntesis para relembrar o adepto portista que perdeu a vida nas águas de Sevilha. Espero sinceramente que a Taça também tenha chegado até ele)

Estádio Olímpico de Sevilha ou o ideal de qualquer adepto, como lhe queiram chamar. Entro cedo e olho à minha volta. Vício terrível de analisar a bancada antes do relvado. Não sei se demorou 2 ou 20 segundos, mas a nossa parte já está cheia. Não tenho cadeira para me sentar, não tenho água para beber. Devia estar cansada e desesperada com tanta sede. Mas apercebo-me de que o calor não tem nada a ver com as altas temperaturas. Celsius não foi nada naquele dia quando comparado com aquele formigueiro que, se isto fosse um romance, seria um sinal de paixão. E não é que era mesmo?

Não me atrevo a descrever aquele jogo. Tudo o pode ser dito sobre ele será sempre injusto e incompleto. Afinal de contas, estamos a falar dos melhores 120 minutos da minha vida.

De Sevilha para o Mundo,

Vítor Baía, Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Deco, Alenitchev, Capucho, Derlei e Catarina Pereira.

7 comentários:

Azuleiro disse...

Ah... Roma..belo passeio... foi um dia em cheio xD e Sevilha... ia destilando...mas valeu apena.. foi dos melhores dias da minha vida xD

Bruno Pinto disse...

Sevilha... Eu estive lá... Foi o jogo da minha vida! E orgulho-me de ter estado em todos os jogos em casa dessa gloriosa caminhada.

Anónimo disse...

Em Sevilha não estive (não havia dinheiro na altura)... mas não devias ter falado do jogo com a Lázio... isso é entrar num saudosismo bem próprio de outras "gentes" ... esse para mim foi o jogo de uma vida:

- entrar 3 horas antes no estadio

- levar a camisola da sorte (fininha por sinal) e levar com chuva, vento , calhaus de gelo (sim akilo não era granizo eram pedras) e para apimentar um poukinho de trovoada

- sentir a moral inabalável de todos (axo k mm tu acreditavas numa garnde vitória)

- sofrer 1 golo e ver todos sem excepção a dizer "menos de 4 é derrota"

- marcar o 3º e já lavado em lágrimas enganar-m no lado e abraçar o maior "gandim" á face ta terra (ele festejou com um grunhido tipo ..guarrrraggjhheyeahh)

- marcar o 4º e passar 5 minutos de costas para o jogo

- sentir que aquele era o ultimo grande jogo do nosso velhinho estádio

- sair sem voz e a escorrer água e axar por bem ir jogar setas para o caludas!!!

Não devias ter falado neste jogo!!

Velho Estilo disse...

4-4-2 – “sem truques”

Onde é que eu já vi isto ???

Sempre a reboque... lolololll

Beijoca

Anónimo disse...

Eu estive lá!! Sevilha foi perfeito. A maioria escocesa, a emoção do jogo, a força que os adeptos azuis tiveram... foi incrível! Relembro 3 momentos fora do tempo de jogo que para mim são inesquecíveis:

1. A baforada de calor que levei quando sai da camioneta, e eram prai 9h da manha!

2. Uma avenida com bares dos 2 lados e nós só tinhamos 2 metros no meio da rua para passar, porque o resto era tudo verde. Ainda assim, bebi prai 3 cervejas à borla. Lol!

3. Como disseste a nossa bancada encheu muito cedo e rápido. Quando a nossa equipa entrou ainda de fato para ver a relva, soltamos um "força porto aleeee" como vi poucos, tal era a força. Ai senti, a taça não foge!!

Inesquecível!!

Yakoo

Há_Dias disse...

Fui ver todos os jogos em casa da caminhada para Sevilha. Com a Lázio em casa ao sair do carro e com aquela chuva, o meu pai profere umas palavras de quem já anda há muitos anos (por sinal mais de 30), disse o seguinte:

"Filho, isto é jogo ganho, em terreno molhado o jogo é abençoado"

4-1 no final e esse sim...o melhor que vi nas Antas!!!

Catarina Martins disse...

Não estive em nenhum desses jogos. Nessa altura era uma pitinha canalha de 13 anos. Estava em casa de terço azul na mao e cachecol ao pescoço porque no café nao passaram o jogo, nao estivesse eu ainda a 300km do jogo.
Tenho uma foto desse jogo com a lazio toda equipada a minha mae a por o meu primo bébé ao pe de mim e eu a dar um chega pa la no puto porque nao me deixavam concentrada. Foi memoravel. E tenho pena, muita muita pena porque nunca conheci as antas por dentro.

Sevilha? Concretizar de algo que há muito nos estava destinado, abrir portas a um grupo que merecia tudo!

como diz o presidente : "Ninguém pode fugir ao destino e o nosso é ganhar."

Beijinhos azuis e brancos da Ta_8